Os moradores do bairro carioca chamado Tijuca acham que tem razões de sobra para o lugar ser considerado o berço da música brasileira.
Não há outro bairro na cidade tão cercado de música em sua história e a Tijuca tem uma tradição eclética. Da marchinha à Bossa Nova, do rock à soul music, da Jovem Guarda à música instrumental, das escolas de samba ao som dos universitários, e a liberdade das bandas que faziam todo o tipo de rock.
Nos registros das glórias melódicas da MPB sempre constarão as histórias vividas nas ruas do bairro pelos inúmeros músicos que por elas passaram e continuam passando.
No caso de se conceder a licença poética de incluir o bairro de Vila Isabel para formar a Grande Tijuca, literalmente o coro vai engrossar a voz. Noel Rosa, Martinho da Vila e a Unidos de Vila Isabel estão repletos de histórias e musicalidade para tornar essa região da cidade em um planeta cheio de harmonia e alegria sem fim. Do batuque ao clássico.
Sinatra-Farney Fã Clube
O primeiro fã clube do Brasil, fundado em 1948, é considerado a célula inicial da Bossa Nova. Ficava no 74 da Rua Moura Brito, onde eram realizadas, no início dos anos 50, as reuniões dos jovens que, dez anos mais tarde, colocariam o movimento no mapa da música mundial. João Donato e Johnny Alf eram habitués.
Tom Jobim
Em 1958 se conheceram no Bar do Divino na esquina das ruas Matoso com Haddock Lobo. Roberto sempre parava ali na ida e na volta do curso de datilografia que fazia na Praça da Bandeira (morava no Engenho de Dentro). Passaram a fazer parte da roda, noite adentro, Tim Maia (morava no 109 da Rua Aristides Lobo), Wanderléia (morava com os pais na Rua Almirante Cochrane) e Jorge Ben. Erasmo que morava na Rua Delgado de Carvalho e compôs anos depois a nostálgica "Que turma mais maluca, a turma da Tijuca", conta que Tim lhe ensinou ali a tocar violão com tres cordas.
Nos anos 30, as batalhas de confete vinham da Praça dos Cem Réis (atual Praça Tiradentes) em direção a Rua Dona Zulmira, onde começava o carnaval carioca.
Lamartine Babo, o rei das marchinhas, morava na Conde de Bonfim 1110 e brincava na Zulmira com o bloco "Tatu Subiu no Pau".
Salgueiro, campeã em 1963 |
A Unidos da Tijuca, fundada em 1931, é uma das referências mais tradicionais da história das escolas de samba e em 1963 o Salgueiro foi a campeã do desfile fazendo uma revolução carnavalesca ao deixar de lado as fantasias de nobres e apostar na valorização dos temas negros com um samba-enredo homenageando Xica da Silva.
A Tijuca tem a maior concentração de escolas de samba da cidade. Na época do carnaval os ensaios de Império, Unidos e Salgueiro movimentam mais de 15 mil pessoas por noite.
A Tijuca tem a maior concentração de escolas de samba da cidade. Na época do carnaval os ensaios de Império, Unidos e Salgueiro movimentam mais de 15 mil pessoas por noite.
Sobrado da Jaceguai
No 27 da rua, Ivan Lins, Gonzaguinha e César Costa Filho comandavam, no final dos anos 60, o Movimento Artístico Universitário (MAU). Ali compuseram "Madalena" e "Explode Coração", entre outras.
18 de outubro
O 389 da rua também é um endereço musicalmente histórico. Na década de 70, sob as teclas do dono da casa, o tecladista Hélio Celso, reunia-se a papa fina do instrumental. Entre outros, estavam Márcio Montarroyos, Turíbio Santos, Paulo Moura e Vitor Assis Brasil. Um dia a porta abre e entra...Sarah Vaughan. O atrativo do lugar era a paz e o silêncio que propiciavam deliciosas jam sessions.
Loja Sub-Som
Era um point badaladíssimo, no subsolo de uma galeria na Rua Conde de Bonfim. Apareciam sempre por lá Ed Motta (nasceu na Rua Barão de Itapagipe e morou até os 18 anos na Antônio Basílio) e Picassos Falsos, a principal banda de rock do bairro nos anos 80.
MPB na Guaribaldi
Considerado o mais charmoso foco musical do bairro. Em andares diferentes no edifício onde moravam, Aldir Blanc e Moacyr Luz recebiam a fina flor da MPB. No mesmo dia podia-se encontrar a Velha Guarda do Império, músicos desconhecidos. Tudo como de costume, sem preconceito mas com muita criatividade.
Bar da Dona Maria
No 13 da Rua Guaribaldi, a tranquilidade tem uma convivência muito inspiradora e um pé direito alto, raro de encontrar em botequins. Dá um tremendo som, realçavam Aldir Blanc e Moacyr Luz, habitués sempre prontos para armar novas rodadas de boa música. Mantém, desde a inauguração em 1960 até hoje (2011), toda a infraestrutura de ambiente simples com balcão de mármore e geladeira das antigas. Beth Carvalho e Noca da Portela costumam ir degustar a grande sensação apetitosa do lugar, o croquete de carne.
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