Machado de Assis (à1839 †1908), conhecido por ser um sagaz observador da sociedade carioca do século XIX, elaborou uma produção literária cujo pano de fundo se desenvolveu graças à intensa vida social e cultural que levava. O escritor, poeta e fundador da Academia Brasileira de Letras, em 1897, se baseou em tudo e em todos para compor os seus personagens. Das confeitarias, inspiradas nos cafés parisienses, que pipocavam pela então capital, aos bares, saraus, restaurantes e teatros que se espalhavam pelo Rio, após a chegada da família real portuguesa em 1808.
Essa faceta boêmia pode ser visitada nos detalhes dos seus romances e, principalmente, nas crônicas que publicava na imprensa. Em junho de 1878, ele escreveu em "O Cruzeiro" que ia à Confeitaria Castelões, no centro do Rio, onde era habitué, "às quatro da tarde, absorver duas ou três mães-bentas, excelente processo para abrir a vontade de jantar."
O Rio de Janeiro do século XIX foi muito interessante e agitado, e a história gastronômica se mantém viva até hoje, através das heranças culturais portuguesas, como os botecos e os restaurantes que marcaram o estilo daquela época.
A Rua do Ouvidor como pólo de entretenimento, a chegada dos magazines, o lançamento das primeiras revistas de culinária e as receitas dos principais pratos, contemplando as canjas de galinha sorvidas por Dom João VI e os doces portugueses vendidos em confeitarias ou servidos pela burguesia carioca em seus saraus depois da Proclamação da República.
O Rio, capital do Império, viveu seu momento de "chá das cinco", programa obrigatório da elite após as óperas apresentadas no Teatro Lírico, inaugurado em 1871 por Dom Pedro II.
"Conversávamos alguns amigos, às cinco da tarde, bebendo chá. Havia elegância nas pessoas e nos costumes. Suponho que os ingleses é que inventaram esse uso de beber chá às cinco horas. Os franceses imitaram, nós estávamos vendo se imitando os franceses, há de haver alguém que nos imite.", escreveu José Maria Machado de Assis em crônica publicada em 1895 na "Gazeta de Notícias".
Além do material escrito por Machado, o livro "Relíquias Culinárias" de Rosa Belluzzo, lançado em 2010 e ganhador do Prêmio Jabuti em 2011, conta sob duas perspectivas irresistíveis, a do estômago e a dos eventos sociais, a evolução da vida cultural e do consumo no Rio do século XIX.
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