quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

Crème de la crème – 100 anos do brasileiríssimo Catupiry

Em 1911 a população brasileira era de 24 milhões, em 2011 é de quase 200 milhões. Foi uma época de muita intriga política, agitação social e greves pela redução da jornada de trabalho que chegava a 14 horas diárias. O Estado, liderado pelo presidente Hermes da Fonseca, sobrinho de Deodoro, o proclamador da República, enfrentou pela primeira vez os poderosos clãs de fazendeiros do Nordeste, oligarquias que dominavam a economia rural.
Entre tanto tumulto, houve um fato saboroso para a História do Brasil. O imigrante italiano Mario Silvestrini criava na estância hidromineral de Lambari, Minas Gerais, o produto que se tornaria sinônimo de qualidade da categoria e entraria para o Dicionário Internacional de Queijos, Les Fromages de Les Editions Larousse.
Nascia o Catupiry, o pai de todos os requeijões brasileiros.
O nome, que em tupi-guarani significa excelente, é uma homenagem de Silvestrini ao Brasil que o acolheu junto com um leva de quase cem mil imigrantes.
Após um século, a empresa produtora Lacticínios Catupiry mantém guardado a sete chaves o segredo da sua receita. A base é composta por leite fresco, creme de leite, fermento lácteo, massa coalhada e sal, mas o tempo de cozimento, temperatura, dosagem e qualidade dos ingredientes são sigilo absoluto. O mistério é tamanho que a produção é compartimentada em linhas de montagem em quatro fábricas em São Paulo, Minas Gerais e Goiás, onde as visitas são proibidas.
O “requeijão cremoso” da caixinha redonda, originalmente de madeira, e logotipo nas cores azul, vermelho e branco vendeu em 2011 cerca de R$250 milhões, uma demanda com crescimento de 25%. A tradicional embalagem de madeira, a madeirinha, tem uma produção simbólica e pode ser encontrada em algumas delicatessen.
O fundador faleceu em 1961 e uma sobrinha-neta participa da gestão da empresa, que foi profissionalizada. Há quase oito mil clientes espalhados pelo Brasil, entre os quais seis mil pizzarias.
A pizza com Catupiry foi criada por um vendedor do requeijão que um dia em casa resolveu colocar na massa caseira o produto que vendia nas cantinas italianas. A idéia deu tão certo que virou mania nacional a pizza de “borda com Catupiry”.
Por ter baixo teor de acidez, o Catupiry se tornou um ingrediente indispensável para inúmeros pratos. É um dos símbolos mais significativos da gastronomia brasileira sendo usado em entradas, petiscos, pratos e sobremesas. É presença certa no camarão empanado, coxinha de galinha, camarão na moranga e no mineiro "Romeu e Julieta". 
Em 2009 surgiu a versão Catupiry Light, 43% a menos de gordura, para atender às exigências do mercado saudável, mas tem gente que não está nem aí. “O bom é com gordura. O sabor, a textura e aquele salzinho no final são inconfundíveis. Identifico na hora”, diz uma cliente enquanto saboreia um camarão com Catupiry.
Em 1997 o INPI (Instituto Nacional de Propriedade Industrial) reconheceu o Catupiry como Marca Notória, título que lhe garante os direitos autorais da marca e do produto.
Em 2005 o Inmetro identificou 59 marcas diferentes de requeijão fabricadas em nove estados, mas o Catupiry continua sendo a preferência nacional.

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